O Projeto Pa-Redes além de sair das quatro paredes do museu, também procura uma arte inclusiva e participativa em dois dos Bairros de Intervenção Prioritária de Lisboa: Carlos Botelho e João Nascimento Costa. A arte, para perpetuar-se como inclusiva, deve reinventar o seu discurso com novas metodologias artísticas de modo a caminhar rumo à arte comunitária. Assim, a equipa do projeto Pa-Redes foi, em Outubro do 2016 até ao Bairro da Torre (Cascais) para visitar o projeto artístico de arte urbano Somos Torre e refletir sobre as bases da nova metodologia. A partir desta visita tentou-se pôr bases solidas a fim de construir fórmulas artísticas integradoras. O primeiro passo a seguir foi o de convocar uma assembleia para os moradores dos bairros interessados em participar no projeto. Nesta primeira sessão também estiveram presentes as pessoas responsáveis pelo projeto de arte urbano Somos Torre com o objetivo de envolver a população dos bairros Carlos Botelho e João Nascimento Costa ao falar dos sucessos das suas obras artísticas.
Já numa segunda assembleia comunitária deu-se uma volta pelos bairros e escolheram-se as paredes falariam das suas memorias, com os seus respetivos dados. Em posterior assembleia definiram-se os chamados padrinhos e madrinhas, é dizer, os “responsáveis” ou lideres de cada parede. Com esta metodologia a figura dos padrinhos e das madrinhas são um motor muito importante para que a arte inclusa seja verídica, pois, estes vão a trabalhar com os artistas durante o processo.
Atualmente a equipa do projeto está a reunir-se com cada padrinho e madrinha a fim de falar minuciosamente sobre a memória que querem embalsamar nas paredes e empenas dos bairros. Também, se lhe estão a mostrar a cada padrinho e madrinha os trabalhos de artistas para que escolham o estilo artístico que lhes parece ser mais apropriado para as memorias a figurar na parede.
Quando se materializam as memorias nas paredes, as quais são escolhidas pela população, estas falam de muitas lembranças que formam parte da identidade e memoria coletiva do bairro. Uma das paredes vai falar sobre a historia comum daqueles territórios como os terrenos baldios, a ocupação e construção de barracas e o posterior realojamento. Outra vai retratar de um modo realista e natural a rampa do Bandeira que as crianças e jovens usavam para descer com carros de esfera. Também vai figurar nas paredes o incêndio que aconteceu no Bairro da Curraleira em março de 1975. Outra parede vai ser dedicada à musica, pois este bairro é um berço da musica cigana e do fado. E ainda vamos poder ver num dos murais um tributo ao Real Olimpico da Picheleira, associação que existia no Casal do Pinto onde as pessoas se juntavam, iam tomar banho, etc. Mais memórias vão fazer parte da arte mural destes bairros: o União Clube da Curraleira, as crianças a jogar na rua, ao futebol, a creche (a única daquela território), a escola. Também se vai falar das barracas, dos chafarizes, dos tanques, da fogueira de natal, da solidariedade, mas também do facto daqueles territórios terem sido considerados durante muitos anos territórios nos quais se devia/podia entrar. Por último, e não menos importante, existirá uma empena de mais de 30 metros ligando o passado, presente e o futuro desejado.
Com este método, o termo de arte para a comunidade toma consciência, corpo, pois as decisões de projeto tomam-se em assembleias e, alem disso, existe a figura do padrinho ou madrinha que trabalha lado a lado com o artista e que garante o contacto e o envolvimento da população. Através desta fórmula o debate e as decisões dos moradores toma lugar num contexto no qual se recupera a participação como forma de integração artística num espaço excluído.